Um sistema frágil, com déficit de vagas e de servidores, composto por unidades sucateadas e carentes de investimentos em segurança e tecnologia. O cenário de caos no Sistema de Execução Penal em Goiás resultou em ocorrências em quatro unidades prisionais do Estado neste feriado, em Aparecida de Goiânia, Anápolis, Alexânia e Santo Antônio do Descoberto. O saldo: 20fugas – 14 delas em um tentativa de resgate de presos – e 5 pessoas feridas, sendo 3 detentos, 1 policial militar e 2 agentes penitenciários.
Dos foragidos, apenas seis haviam sido recapturados até a noite de ontem. A cúpula da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP) não descarta participação de servidores nos casos.
Numa operação ousada, quatro homens invadiram o presídio de Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal, por volta das 2 horas da madrugada de ontem, com o objetivo de resgatar cinco presos da unidade. No momento da invasão, três agentes faziam a segurança na unidade superlotada, que abrigava 86 presos onde só cabem 44.
Segundo apurou a Polícia Civil de Águas Lindas, um dos homens, Francisco Diniz Sousa, de 26 anos, teria rendido os agentes com uma Carabina Puma. O homem ordenou aos agentes que abrissem as celas da Ala A enquanto os outros três comparsas, Flávio Henrique Rodrigues, 19, Fábio Monteiro da Silva, 24, e Rogério Fiúza, 29, ficaram do lado de fora. Todos foram presos.
Durante a ação, os presos da Ala A roubaram as armas dos agentes – dois revólveres calibre 38, uma pistola .40 e uma espingarda calibre 12 – e empreenderam fuga. Dos 14 presos de Santo Antônio do Descoberto, três tinham sido recapturados até ontem. As armas roubadas também não foram localizadas. A AGSEP informou que homens da Polícia Militar do DF estariam prestes a efetuar a prisão de outros seis deles, que teriam sido localizados, com a ajuda de um helicóptero da polícia, numa mata da região.
Segundo informou o presidente da AGSEP, Edilson de Brito, os quatro homens acusados de invadir o presídio de Santo Antônio do Descoberto teriam sido contratados por dois presos da unidade, já identificados. Eles teriam pago pela ação R$ 3 mil em dinheiro e prometido ainda um veículo em pagamento. O dinheiro, de acordo com o presidente da agência, chegou a ser entregue, mas o carro, não. Os quatro acusados foram recrutados na região e apresentam passagem pela polícia, aponta investigação preliminar da Polícia Civil de Águas Lindas. Após ouvidos, ontem à tarde, eles seriam transferidos para o presídio que invadiram.
Alexânia
Em Alexânia, a tentativa de fuga dos presos da cadeia local, também superlotada, teve saldo trágico. Na troca de tiros entre presos e polícia, dois agentes e um PM ficaram feridos – sendo um gravemente -, além de dois detentos da unidade. O policial militar ferido, cabo Robson da Silva Courado, internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Urgências de Anápolis, corre risco de morte. Ele foi baleado no abdome e teve o baço e os rins atingidos. Os agentes Dorvando e Adalberto Onório também ficaram feridos na troca de tiros. O primeiro recebeu alta. Adalberto continuava internado em Anápolis, sem risco de morte.
A troca de tiros na unidade teve início no fim da tarde de quinta-feira, durante a contagem dos presos. De posse de uma arma – até ontem não localizada – um dos presos começou os disparos contra os agentes. Em seguida, entraram na sala da Supervisão de Segurança da unidade e pegaram mais armas, tomando em seguida as ruas. Dos cinco que conseguiram fugir, três foram recapturados, dois deles feridos: Júlio César Carvalho e Bruno Nogueira.
A outra tentativa de fuga foi registrada no presídio de Anápolis. O detento Wallace Souza Gonçalves foi baleado ao tentar fugir da unidade, na quinta-feira. Ele foi recapturado já na rua. Na Casa de Prisão Provisória, em Aparecida de Goiânia, uma briga entre presos durante o banho de sol deixou ferido Paulo Henrique de Souza Tavares, encaminhado ao Hugo. Segundo o diretor da unidade, Luiz Carlos Mendes, a confusão foi generalizada, provocando ferimentos leves em outros presos.
AGSEP garante que ações não têm ligação
O presidente da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP), Edilson de Brito, diz que as ações nos presídios de Alexânia e Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal, foram isoladas, não havendo qualquer relação entre elas. Em comum, essas unidades têm o fato de estarem superlotadas, serem unidades muito antigas e contarem com número reduzido de agentes penitenciários.
Edilson de Brito admite que a ocorrência do feriado, quando o plantão conta com número menor de seguranças, pode ter contribuído para as fugas. “Nos feriados, há uma inquietação natural entre os detentos.” Segundo o presidente da AGSEP, cinco presos de Alexânia foram transferidos na madrugada para o Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, unidade com o maior grau de segurança no Estado.
Goiás possui hoje uma população carcerária composta por 12 mil presos, mas tem somente 7 mil vagas – déficit de 5 mil vagas nos presídios. O diretor de Segurança Prisional da AGSEP, delegado Manoel Leandro, não precisa o déficit atual de agentes, mas a contar pela quantidade de novos agentes aguardados, ele é alto. Segundo diz, 86 concursados do cadastro reserva serão chamados; 313 temporários contratados e um processo seletivo pretende buscar outros 890 para o sistema. Atualmente, a AGSEP possui em torno de 800 agentes.
Fonte: O Popular
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